Entrevista com Luiz Carlos Rachid para a Revista Riviera n. 39 – edição janeiro 2025
Entrevista concedida em 28/10/24
O engenheiro Luis Carlos Rachid não é bertioguense de nascimento mas ninguém conhece a cidade como ele. Primeiro administrador regional, entre 1980 e 1984, quando Bertioga ainda era um subdistrito de Santos, prefeito da cidade que se emancipou em 1991, de 1997 a 2000, e atual secretário de obras da Prefeitura, viu de perto o desenvolvimento desse município que foi o que mais cresceu entre todos da Baixada Santista.
Rachid: Primeiro administrador regional de Bertioga de 1980 a 1984, já estava como arquiteto quando conheci Dr Luiz Carlos (superintendente da Sobloco), nos idos de 1979, 1980, quando Bertioga ainda era distrito de Santos, na antiga regional que funcionava onde era o Parque dos Tupiniquins, ao lado do forte, onde foi também a primeira Câmara Municipal. Ali era regional, depois veio o pronto socorro, onde depois virou a Câmara. O início foi lá, onde aconteceram os primeiros contatos que tivemos. Ressalto a importância do bom atendimento como funcionário público. Eu era o arquiteto da Prefeitura de Santos com base em Bertioga , eu recebia as mais diversas pessoas, dos mais diversos níveis. Eu fui o primeiro a estar lá em regime total, não eram plantões eventuais, era um plantão permanente de segunda a sexta trabalhando lá como era a ideia do Prefeito Antonio Manoel de Carvalho, o Carvalhinho, na época. Ele gostava muito de Bertioga e uma das reivindicações era que essa tivesse uma administração autônoma. Esse foi um embrião deste trabalho. A partir disso recebemos diversos empresários, pessoas do comércio, população em geral e sempre recebi muito bem as pessoas, isso é mais que obrigação como funcionário público, faz parte do Poder público atender.
De alguma forma, isso contribuiu para o andamento dos trabalhos, porque existia uma prospecção da parte da Sobloco e das empresas que compunham a Riviera. É trabalhar no sentido de dar um caminho para o projeto, como vamos implantar, aonde, como, quando. Em 1976 aproximadamente, estava sendo implantado o plano diretor de Bertioga, ainda com versão de Santos. Era um plano diretor exclusivo para Bertioga, independente de estar dentro do município de Santos, já existia uma preocupação de disciplinar o desenvolvimento com um código próprio bem ousado, inclusive já para a época, com terrenos com dimensão mínima, propondo a urbanização.
Esse plano já havia dado as diretrizes para a implantação da Riviera. Dali pra frente, providenciar os vários documentos, depois aprovação final era por Santos mesmo, pela Secretaria de Obras de Santos, mas havia uma integração entre a regional e a secretaria.
RR: Como você enxergava esse projeto?
Rachid: Recém formado, estava deslumbrado com a implantação de um projeto de tal magnitude, tanto é que, quando foi apresentada a Riviera para a comunidade de Bertioga, naquele churrasco de Búfalo, que era no pavilhão que hoje é o Siv, a gente sentiu entusiasmo. Alguns diziam… ‘será’?? , mas porque não?. Mas tudo começou a amadurecer quando se implantou o primeiro prédio, aquele redondo, o Flat, que começou a se materializar. Bertioga estava também passando por uma transformação com a inauguração da Mogi Bertioga e a Rio Santos. Tem uma foto bonita que mostra o tabuleiro das pontes ainda não prontas. Tem uma história desta ponte, os tabuleiros que finalizavam a interligação entre a Rio Santos por parte de SP, São Bernardo diretamente através da Imigrantes. Sua conclusão foi conseguida por meio de uma organização, que a Riviera também participou, da sociedade local lá no restaurante do Duarte, aquele restaurante no centro e teve a visita do Ministro Cloraldino Severo, que era ministro dos transportes da época e ele autorizou a execução da ponte. A ponte já estava pronta, mas faltava a plataforma que uniria, ficou por 4 anos só as colunas e aquele sonho de ligação.
O grande problema mesmo foi a falta de recursos, mas com o aporte final do ministério, conseguiu-se implantar. Inclusive foi reivindicado também acessos ao município, pois o acesso para a cidade era feito pela balsa. De repente só a Rio Santos podia ter um vazio ali, então complementou-se este vazio com a interligação da pavimentação de diversas ruas como a Manoel Gagio, depois a 19 de maio, que foi pavimentada inicialmente pelo DER, a rua do SESC, o Passeio Djalma.
RR: Com a ponte, abriu-se a ligação da capital com o litoral
E o homem de visão Luiz Carlos Pereira de Almeida já tinha visto isso aí há séculos. Viu aquela ponte para sair, a estrada saindo, tudo estava em um processo de transformação. É a visão de perceber o momento exato de implantação de um projeto extremamente ousado, mas que teria que contar com essa comunicação, porque tudo era transportado via balsa, isso era quase impossível. Difícil demais, foram pioneiros os que fizeram o trabalho, o Paulo, o Artur Richter, todos que participaram desde o início deste trabalho.
RR: A Sobloco trouxe a proposta de fazer os prédios na praia, para poder viabilizar o empreendimento.
Sim, você democratiza mais o espaço urbano porque só com casas, você praticamente restringe a ocupação. A ocupação inteligente que foi proposta, justamente não era vender o terreno, mas a implantação do imóvel, do empreendimento. Foi pensado até nisso, nesse detalhe. Se você pura e simplesmente vendesse o lote, ia ficar cada um especulando, “vamos ver se melhora”. Não! Para você ter um bom preço, ter um desconto, você tem que construir – o plano de incentivo -, este plano de incentivo é ousado, para a época então, foi inusitada essa proposta. Isso tudo contribuiu de uma forma muito pujante para a Riviera acontecer.
Também ela começou a nascer com grandes preocupações ambientais para aquela época. A criação da Fundação 10 de Agosto e a própria Associação dos Amigos da Riviera, que era uma forma de você executar e manter! Porque executar era uma situação, mas como manter o padrão de qualidade se não tivesse uma atividade autônoma que independesse do poder público? O risco de não ter sequência! Então, você garante a perpetuidade do trabalho com maturidade. Você tem ainda um projeto que acho muito bom. É o Projeto Clorofila. Acho que é um projeto que envolve as crianças, envolve por um olhar, um abraçar da própria Riviera, promovendo a educação das crianças e trazendo o que é de mais importante e que nem era tão valorizado, que é a natureza, as plantas, enfim, tudo muito ousado.
RR: E tinha também os eventos cívicos, da bandeira, que tem até hoje, todos os anos.
Isso cultivou e contaminou positivamente a cidade como um todo. Porque… Hoje os desfiles de Bertioga são maravilhosos, até hoje tem a participação das escolas daqui e de toda a comunidade. Oe eventos da Riviera inspiraram, tiveram participação nisso, é o cultivar. Riviera sempre foi um ponto de referência, de observação, por mais que se mostre uma tendência de isolar, sempre foi referência para a população de Bertioga. De certa forma é um orgulho para nós termos a Riviera de São Lourenço.
E outra coisa o que mexe muito é a Fundação 10 de Agosto, a questão da música. Bertioga teve também alguns ensaios de orquestra, mas quem consolidou esta proposta foi aqui, não foi só para os filhos dos funcionários, o trabalho se estendeu para toda a cidade. Então a música, a educação, a formação, estão consolidando cada vez mais, já não da mais para separar uma coisa da outra
E a Fundação tem um núcleo no bairro Chácaras! Isso já mostrou a responsabilidade e a interação! E, de certa forma, tudo isso inspirou as próprias administrações municipais e o próprio Caio, (prefeito até final de 2024), não é jogar confete para a gestão, mas o sonho dele, é muito inspirado em cima da Riviera, na área de infraestrutura também.
A proposta desde o início da gestão foi se inspirar na implantação e no incentivo da iniciativa privada, e esse trabalho de nivelar a cidade por cima, de tal forma, que ele já falou, que o sonho dele é que a Bertioga se torne uma grande Riviera. Você tem que ter uma base de inspiração. Com a experiencia dele na iniciativa privada e como ele é muito ousado, como esse moço aqui… Luiz Carlos Pereira de Almeida.
- Você falou que o as pessoas do poder público, enxergaram o potencial da Riviera, aceitaram bem, mas que no começo houve bastante resistência da população. Bertioga era uma vila, uma coisa mais de pescadores, começar a ver prédio na praia era uma coisa meio chocante na época.
Foi um processo, eu concordo que vivi a época da regional e antes da implantação do município, o novo sempre estabelece uma relação, mas a medida que foi se inteirando, foi conquistando aquele isolamento, a diferença foi nivelando. Não vejo hoje absolutamente nenhum resquício, mas entendo que é importante a manutenção desses serviços sociais, esse relacionamento, porque não podemos pensar em uma ilha de prosperidade isolada em torno de miséria. Os empresários modernos sempre vêem o custo social do empreendimento, a compensação social, isso foi feito de uma forma muito inteligente pelos empreendedores da Riviera.
RR: Essa visão, são valores que a Sobloco sempre teve, valores pessoais das famílias socias.
E depois juntou-se a Praias Paulistas, Fazenda Acaraú, Dr Ribeiro, a Dona Hilda, tinha tantos componentes de qualidade. Isso não tinha como não dar certo.
Bea: A emancipação de Bertioga veio em 1991e você acha que a Riviera contribuiu?
O Dr Luiz Carlos sempre teve uma posição neutra como empresário, tinha que ter uma relação de respeito com a Prefeitura de Santos, ele sempre elogiava o município de Santos como município. Havia uma relação próxima com o prefeito Oswaldo Justo, com o Paulo Barbosa. Essa relação ele tinha, mas a pujança da Riviera, o que ela proporcionou… porque nós tínhamos que cumprir vários itens para se enquadrar na legislação que permitiria a proposta da emancipação, e a receita, e a estrutura que já estava sendo edificada, já contabilizaram positivamente nesse processo. Já em 1991 já tinha a receita, oriunda da Riviera, e todo o processo e expectativa. Infelizmente Santos sempre viu o cidadão bertioguense com menosprezo, então essa situação distanciou. As pessoas diziam “ah, morar em Bertioga” … Um funcionário público para vir em Bertioga era um castigo, coincide com isso as sugestões quando iniciei minha carreira, quando assumi meu cargo lá na Prefeitura de Santos.
Bea: Você é de São Paulo
Estava recentemente formado, assumi a prefeitura de Santos como arquiteto, com base lá em Santos ainda, nos primeiros meses e logo em 1976, houve uma mudança dos distritos dos funcionários. Cada engenheiro, fiscal, arquiteto tinha uma área, então me destinaram para Bertioga porque eu era o mais novo. Podia parecer uma punição, mas ao contrário, eu já tinha projetos no Guarujá, já tinha uma certa relação com Bertioga, então para mim foi um prêmio! e quando o Carvalhinho me nomeou arquiteto aqui diretamente de forma definitiva, porque eu já vinha uma vez por semana -, isso foi um grande presente. Porque eu lembro que o Dr Carvalho estava descendo as escadarias do prédio da Paço municipal de Santos, como ele fazia habitualmente, e estava todo mundo apavorado na Prefeitura quem ele ia escolher para trabalhar todos os dias em Bertioga, porque um dia já era um castigo, agora, todo dia!! Aí cheguei até ele, “Dr Carvalho, o sr está precisando de um arquiteto ou algum engenheiro, enfim, para trabalhar em tempo integral em Bertioga?” Em vez de ele responder, ele perguntou: “Você topa?” Falei topo o desafio!,
Tinha um administrador, Dr José Santos Ferraz, eu já trabalhava nesse período de 1976, e quando virou 1980, quando saiu o Carvalhinho e entrou o prefeito Paulo Barbosa, nesse momento eu fui nomeado Regional de Bertioga. Ai sim que eu vim com a família pra ca. Eu entendi que os problemas de Bertioga aconteciam e os administradores ficavam em Santos no fim de semana. É no fim de semana que os problemas aconteciam! Foi um Deus nos acuda, os filhos estudavam no colégio São José em Santos, e eu vim pra Bertioga… aqui tinha a escola municipal que era a Delfino Stockler de Lima, era um prezinho. Depois teve o Armando Belegarde que era estadual, mas isso foi um pouquinho mais pra frente. Foi um choque no começo com a família, mas eu entendia que eu tinha que apostar. Dali um ano eu já era presidente do Lions club e já estava engrenado…
Precisa acreditar! Sempre tive afinidade com Dr Luiz Carlos, porque ele também era uma pessoa ousada, porque ele acreditava e acreditava em mim também. Uma reciprocidade.
Vim para Bertioga em 1980, quando assumi a regional. De 76 a 80 eu era arquiteto da prefeitura em Bertioga já, trabalhando todo dia, mas ia e voltava a Santos, pela balsa e pela praia, mas eu digo para você que na vida, até para os mais jovens, é preciso acreditar, você não pode ser igual. Senão eu estaria lá na prefeitura batendo carimbo, que nem alguns colegas que estão há 30 anos lá, se aposentando, ainda como funcionário, não como se houvesse desmerecimento, mas não ousaram acreditar numa proposta , em um projeto.
RR: Porque naquela época você sair de Santos, que era uma super cidade, para vir morar em Bertioga que era tão incipíente ainda…
Em compensação teve um lado bom para mim, meus filhos Adriana e André, eles eram extremamente urbanos. Quando chove, tem aquela formiguinha que tem asinha que voa (parece cupim), o pessoal costuma colocar agua, quando acontecia isso em Santos e ainda acontece, eles ficavam morrendo de medo, era um desespero. Passaram um ano aqui, já pegavam o caranguejo com a mão! Então é ter um contato com a natureza, foi salutar pra eles também. Tem mais liberdade.
RR: Bertioga se desenvolveu muito com a Riviera em termos de desenvolvimento local, de receita, de movimentação, de comércio
Bertioga estava começando. Tinha uma coisa que era importante: o município de Santos sempre foi muito poderoso. O prefeito, Paulo Barbosa era nomeado, mas era também indicado, o padrinho político dele era do Delfin Neto, ministro da fazenda. Houve uma composição de esforços da sociedade local, do Lions Club, que era uma verdadeira câmara municipal , isso fez com que as cidades se esforçassem e houve uma aproximação.
Estava em voga, no tempo do governo Maluf, por exemplo, o governo itinerante. Então eu fiz na época um modelo semelhante. O Lions Clube se reunia mensalmente, cabiam todos os secretários municipais de Santos junto com o prefeito, despachavam com a comunidade, então houve uma aproximação. O Lions era uma câmara informal. Depois tinha a Sociedade Amigos de São Lourenço, que era o Sr Vitor Pinto, a Sociedade Amigos do Indaiá, que era Sr Diney Lira, Vista Linda que era o Mário Guzzo. Cada bairro funcionava como uma organização, já que não existia a câmera, então eram eles que tinham esta função de trazer essas reivindicações. Essa aproximação com eles fez com que eu tivesse um trânsito melhor na Prefeitura de Santos, porque eu levava os projetos e já tinha o conhecimento do secretário que antes estava distante. Quando eu pedia por exemplo, tubos de concreto para fazer uma obra determinada, o próprio secretário já despachava, já sabia do destino, tinha uma relação próxima, então isso ajudou muito a minha projeção junto a cidade de Bertioga.
RR: Tinha que ter muita confiança, pois chega um arquiteto de Santos para cá, é uma comunidade muito enraizada…
Precisa estar próximo! Houveram propostas disso no tempo do Dr Carvalho, por exemplo, ele adorava Bertioga, tinha um pessoal que ficava ali no Indaiá, sempre final de semana, ele tomava seu uísque lá, e ficava sossegadinho. Quando houve o projeto de emancipação, – aquele movimento que não foi só em 1991, o pessoal já estava há anos trabalhando na emancipação – , ele disse “na minha época eu não quero que haja movimentação nenhuma de emancipação, mas a troco disso eu vou fazer um desafio, vocês elenquem as obras que vocês precisam, eu faço” – ele tinha as costas largas do Delfin Neto – “entao eu vou verificar, se eu puder atender eu vou dizer que vou atender e não quero falar durante os 4 anos da minha gestão, sobre emancipação”. É chato perder Bertioga, a Telma, daqui 200 anos vão lembrar que foi a Telma. É fato, então, o que aconteceu, eles se reuniram, “nós vamos jogar alto para ele não aceitar e tocar a emancipação”, então eles pediram prédios, o pronto socorro que funciona até hoje na praça Vicente Molinari, uma delegacia de polícia, prédio da delegacia, uma regional para funcionar onde era a câmara, hoje é o Cem, a pavimentação da av Anchieta, um trecho… Eu era um arquiteto que trabalhava direto, atendendo e que fazia os protocolos, que fazia as aprovações dos projetos aqui na prefeitura, como uma subprefeitura já autônoma. Apresentamos para ele sabendo que ele não iria topar, ele falou, “eu topo”. Topou o desafio e fez.
Isso de certa forma, não atrasou tanto a emancipação porque os itens de estrutura de saúde, ele fez e colocou a cidade em uma condição mais favorável.
Veja a importância dessa pressão, porque fez com que viesse mais estrutura e a cidade se capacitou, junto com a Riviera que estava mais pronta.
Tudo isso aconteceu de forma crescente. Bertioga então se emancipou e mostrou realmente que valeu a pena, porque sucessivamente os prefeitos, a medida que passaram, foram acrescentando até chegar à gestão do Caio que fez muita coisa. Mas cada um, de certa forma contribuiu. Embora fosse uma perda para Santos, o cidadão santista ainda não tinha consciência da importância da Riviera, para ele era algo muito distante ainda. Não só a Riviera, mas Bertioga como um todo. Pensar o contrário foi minha sorte.
RR: E hoje aqui na Riviera, tem muita gente de Santos que tem casa aqui.
Tem vários fatores. No Guarujá, especialmente, devido a grandes problemas sociais e de segurança muitas pessoas vieram para cá. Muitos que tinham apartamento, um investimento em São Paulo, migraram para Riviera como exemplo de qualidade de vida. Isso está acontecendo em toda a cidade. Muitos comerciantes, que a gente está vendo, estão vendo a Pujança de Bertioga como um todo. Muitos no Guarujá, têm um negócio lá, mas no fim de semana, eles alugam um apartamento, alugam pousadas e vem para cá, porque é seguro para ficar com a família. As praias, infelizmente, no Guarujá, estão muito agressivas, no ponto de vista de segurança. Uma pena, porque o Guarujá é lindo. É um município maravilhoso. Mas o contraste social…
Sobre o Projeto de urbanização de Chácaras:
Rachid: O projeto de Chácaras agora vai ser apresentado outra vez ao Ministério Público, vamos convocar os técnicos para expor, por que uma situação é não conhecer pessoalmente, vamos propor uma visita ao local.
Este é um desafio, porque aí você promove a ocupação organizada, ordenada, comercialmente, estabelece estabelecimentos também, do setor de náutica, porque nossa natureza é preciosa … temos o rio Itapanhau, o Jaguareguava, Itatinga…
Que a terra seja ocupada ordenadamente. É uma luta diária vocês ficarem lá derrubando uma ou duas barracas, é um enxuga gelo.
Não se pode dizer não pra tudo. Há um projeto muito interessante na área central de Bertioga, Albertec, que é um projeto ao lado da área central, ali ao lado dos Bouganvilles. Alé é uma área perdida, com risco de ela ser ocupada a qualquer momento. Na área tem mata. Mas a idéia é uma ocupação de 20%, o restante o próprio empreendedor tem que manter. Ele tem que afiançar permanentemente a proteção. Aí dá certo. Se não envolver a sociedade, essa é uma luta por ser vencida ainda.
Rachid: Eu queria deixar até um item que eu coloquei aqui para não esquecer. Um dos meus sonhos, que o sonho desse empreendedor, seja a nossa Marina. Um sonho de uma vida!
Beatriz: Como você diria que a prefeitura pensa sobre a Marina?
Rachid: Um empreendimento absolutamente necessário. Eu entendo que o negócio Marina é excepcional, porque ele não é só o negócio do barco, são os negócios envolvidos, negócios que mantém um barco, por exemplo, ele não pode ser mantido só naquele momento que ele vai usar, ele tem que estar mantendo permanentemente. Isso gera prestação de serviço, gera serviços auxiliares, o corretor de barco, o vendedor de tintas, o mecânico, os motores, eletricidade. Tem todo um aparato que funciona permanentemente, gera, movimenta, é um pólo absolutamente necessário. Também entendo que o canal da Bertioga tem essa vocação, e o prefeito tem um grande projeto para lá. Já fez a primeira parte do parque Tupiniquins.
Eu tive a oportunidade de estar visitando, a convite do governo francês, na época de prefeito, a Costa Atlântica da França. Ali, em 14 dias nós fomos recebidos por 17 prefeitos, foi uma campanha. Eu queria saber exatamente o que era importante, o que deu certo e o que não deu certo. O envolvimento da população com a região metropolitana lá na França, é levada a muito a sério. As questões metropolitanas, os municípios, quando elegem um projeto que seja, por exemplo, de Bertioga, todos os outros municípios interessados investem nele. Não é porque é só de uma cidade. O conceito é de investimento metropolitano que está enraizado lá e se espera que cada vez avance mais na nossa região. Teve casos que o município, a população, não aceitava. Um município que só tinha turismo de inverno e a população mais antiga da cidade – o prefeito explicou pra mim -, não conseguia avançar, porque eles faziam barreiras para implantação de Marina lá. Porque achavam que ia trazer gente de fora. Eles queriam aquele turismo tradicional de inverno. O prefeito fez um trabalho junto às crianças, junto as escolas, envolveu as escolas de tal forma que mudou. Porque olha, você quer ficar na sua cidade ou quer ir para Paris, quer para outra cidade? Ah, eu quero ficar aqui. Mas se não houver emprego, você não vai ter como se fixar. A sociedade dele não aceitou, mas ele precisava conversar e começou com a criança. E em 8 anos viraram, a população aceitou e implantou a Marina. Envolvimento de toda a sociedade. Veja como é difícil! Essas situações não são próprias do Brasil só.
Nós visitamos essas cidades e foi um ensaio, eu entendi a nossa vocação turística. A Marina da Riviera é uma grande referência, não para desenvolvimento só aqui do município, mas de toda a região. O que é Ilhabela, né? Em termos de turismo náutico, tem um turismo de resultados, um nivelamento por cima, e todos aí ganham neste processo. Desde o mecânico, desde o lavador do carro, de barco, manutenção, oficinas…
É um negócio de n negócios, é n oportunidades
RR: Como você acompanhou os primeiros anos da Riviera, viveu essa dificuldade do começo, que era dificuldade de acesso, essa questão da aceitação da comunidade, a luta de trazer os primeiros investidores, empreendimentos, você presenciou muito aqueles churrascos para os investidores..
No primeiro churrasco de búfalo, estava lá o Licurgo Mazoni, o pessoal todo da sociedade, pessoal do Lions, todos. E eu lembro do entusiasmo do Sr. Luiz Carlos. A comunidade achava o projeto bom, mas difícil de acreditar. Mas por questões de preocupação profissional, vendo que o projeto tinha consistência, eu já sentia ele acontecer sim. E também pegou a cidade justamente no momento exato, na hora de transformar, porque Bertioga era uma ilha ligada para o mundo por uma balsa. E ela passou a ter uma malha Rodoviária à disposição, isso também poderia ir para o bem e para o mal, mas soube-se ir para o bem porque foi aproveitado positivamente. A Riviera é uma benção para a cidade porque ela caiu na cidade no momento certo, na hora certa. Porque, talvez anos depois, poderia invadir aqui, virar uma área ocupada. A área estava sendo possível de ser urbanizada e foi urbanizada. E também, se fosse nos dias de hoje, por exemplo, os ambientalistas de plantão fariam um esforço único para não acontecer.
RR: O projeto da Riviera foi aprovado primeiro em Santos, mas ela mas foi o primeiro apresentado aqui para você.
Rachid: Em Santos. A apresentação do projeto discutia a legislação municipal, que era de Santos e a legislação do plano diretor municipal. Então o primeiro passo para o empreendedor é conhecer como é a lei municipal. O projeto da Riviera foi apresentado primeiramente na regional de Bertioga e daí foi levado para Santos, lembro que teria que ser protocolado, ainda não tinha os protocolos aqui em Bertioga.
RR: foi você que recebeu na época?
Rachid: Um dos que recebeu, junto com os colegas.
Foi um sonho, um sonho realmente. Mas o que mais animou, foi o fato da gente acolher bem o projeto. Porque se você vai em uma prefeitura, você está começando a pensar em um empreendimento… “Ah não sei, o senhor mete o carimbo aí e vai lá, e depois a gente ve”… não! Você dá atenção, abre as plantas, quer conhecer e mostra interesse em demonstrar a legislação que pode beneficiar o projeto. Porque a legislação, de certa forma, beneficiou, porque ela tinha uma vocação de proteção, de não deixar fazer lotes pequenos, fazer lotes maiores, era um projeto voltado a elevar o nível do então distrito de Bertioga.
A aprovação foi feita pela Secretaria de obras e Habitação, e eu, de certa forma, na regional, eu era um braço da Secretaria de obras, que é lá dos meus colegas de Santos, mas com sede em Bertioga. Pelo fato de estar aqui, coincidentemente, foi eu que tive um primeiro contato com os projetos, depois o Dr Osvaldo (Correa Gonçalves) esteve lá conosco, e depois tivemos reuniões em Santos, também de apresentação. Ali tinha a Prodesan, que na época, tinha o doutor Roberto Machado de Almeida que era arquiteto, também chefe da produção de projetos. Aí foi que tudo se desenvolveu, foi estreitando, e eu acho que eu participei um pedacinho desse processo todo. É importante o funcionário público acolher bem os empreendimentos.
RR: quando existe uma relação de confiança todos ganham, né?
Rachid: Isto me lembra um episódio com Dr. Luiz Carlos. Inauguração da Mogi Bertioga. Um cenário de pessoas que nunca viram praia. Desceram 1500 ônibus, uma operação do Estado, era previsto 60.000 pessoas. Foi uma loucura. Para o mogiano, a Mogi Bertioga era um sonho de décadas, porque eles ficaram praticamente com a praia, enfim, a chegada é ali no Indaia. Teve a organização da polícia militar, da Secretaria de segurança pública, do corpo de bombeiros. Porque será só um dia, mas é uma bomba, quando inaugurar vai descer aquele mundo de gente. Governador Paulo Maluf, o prefeito Valdemar Costa Filho, que foi o grande gerador dessa obra, era o sonho do mogiano. Ai os bombeiros pediram uma planta de Bertioga. Eu coloquei a planta lá. Aí eles falaram, “aqui que desce a Mogi, aqui na rua 6”, que era aquela rua do indaia, “aqui não dá para concentrar porque é muito extensa a praia. Nós temos que concentrar nessa praia aqui do lado (da Riviera) e temos que construir banheiros”. Isso foi em 1983. Já havia o canteiro da Sobloco, já estava tudo funcionando, o empreendimento estava começando a decolar.
Aí eu tenho que explicar para o doutor Luiz Carlos, “olha, tem minha palavra de honra, será só esse dia. Esses banheiros serão edificados, mas serão demolidos, segunda-feira não vai ter um banheiro”. Achei que ele ia ter um enfarte!!! Mas existia uma relação de confiança! Eu dei minha palavra , para evitar que as pessoas morressem! Você tinha que concentrar o esforço das 60.000 pessoas.
E tinha um vereador, que no dia da inauguração, ele saiu com um caminhão pequeno, desses caminhões menores, cheios de bolas, distribuindo no meio da praia, as criança correndo, o caminhão passando. Acho que passava em cima das cabeças das crianças, a coisa foi uma loucura.
Mas eu garanti, na segunda-feira eu liguei para ele, “olha está tudo intacto, tudo perfeito”. Essa relação de amizade, de confiança… Porque eu poderia passar por cima, mas eu tive que conversar, dar uma satisfação para o empresário. É o respeito!
Esses episódios que valem, né? Essa inauguração da Mogi Bertioga foi uma loucura! E pessoas tao simples…Imagina o pessoal do interior que nunca viu praia! E não era um, eram milhares: 60 mil!!
Os que tinham maior poder aquisitivo vinham por Ribeirão Pires e entravam em Bertioga pela balsa, mas isso aí era uma minoria que fazia esse movimento.
Mas a maioria descia e estava ansiando aquilo há décadas, de repente, o sonho aconteceu.
- É legal essa construção do respeito mútuo, né?
É isso. Eu acho que é importante.
É, teve momentos…, eu estava recém assumido a regional, teve o falecimento do meu pai num acidente de automóvel. Perdi meu pai, ele com 54 anos. Foi traumático para mim. Eu era regional de Bertioga. Quem que esteve lá no féritro comigo, direto, direto? Dr. Luiz Carlos! É esse o lado humano dele, que é de amizade, que ele tinha!
Isso aconteceu mesmo depois que eu saí da prefeitura, sempre tive uma relação boa.
RR Um pouco da sua história…
Fui o primeiro Administrador regional, segundo prefeito, de 1997 a 2000, depois fui
diretor da AGEM (Agencia Metropolitana da Baixada Santista, órgão do Governo do Estado), de 2000 até 2011, depois até 2017 fui diretor regional da CDHU, que regia todos os conjuntos habitacionais da Baixada, que pegava de Ubatuba até o Vale do Ribeira. Eu estava a disposição do Estado para fazer esse projeto. Como eu fui prefeito, tinha facilidade de conhecer e visitar os prefeitos e explicar os projetos, de me colocar na posição deles, esse foi um período muito fértil pra mim, de relação com o governo do estado. Foram 6 anos que eu fiquei.
Eu sempre fiquei muito tempo nos lugares que eu fiquei. Depois, agora, 8 anos como secretário de obras, de habitação na gestão do Caio Matheus.
- E agora, você continua com o novo prefeito Marcelo?
Sim, ele já convidou.
- E a Lucineide (esposa) vai tambem? curte, não?
Lucineide: Ah, se eu não acompanhar…. O que dissolve muito o casal, é quando a mulher não tiver uma boa estrutura.
Rachid: E a Lu também faz um belo trabalho lá também, na parte social, que é no grupo Vivência, da terceira idade. Ela é presidente do grupo Vivência, de Bertioga. A ong é independente e usa o espaço cedido pela prefeitura
Lucineide: “Então, desde 93 que eu venho com essa vida, né? De presidente, vice presidente e presidente do conselho…
Rachid: E teve um papel do Dr. Luiz Carlos também. Aí que é o telhado, né?
Lucineide: Teve o telhado que nós trocamos! O telhado da construção foi feito pelo Dr. Luiz Carlos, vieram as madeiras lá de São Carlos. Ele trocou o telhado todinho pra mim, que estava com cupim. Ah, teve um final de ano lá que ele participou, eu dei uma arvorezinha de cristal para Dna Vera (esposa do Dr Luiz Carlos). Falei assim, “eu sei que você vai ter muitas árvores na sua vida, mas essa de cristal vai ter que guardar”. Ela ficou tão feliz e eu sempre agradeci a ele, nossa, toda vez.
- É importante registrarmos essas memórias, pois o tempo apaga tudo…
Rachid: Há quem diga que nós só tomamos conta, né? Não somos donos de nada, né?
Sobre registros, arquivo memória, eu posso dizer uma coisa para vocês, eu tenho 3 horas e meia gravados no Instituto Arquivo Memória de Santos. Eles pediram que eu fizesse, porque peguei o período de Bertioga.
Tem inúmeras pessoas que poderiam ainda contribuir.
Há um projeto do Caio também de fazer um arquivo memória do município como um todo. Porque isso vai fazer base de estudos…
Tem 2 locais que ele está implantando, um ali na casa da cultura, no centro da cidade. Ali já tá fechado com um tapume. Dá para fazer uma praça lateral, teve uma alteração urbanística, estamos implantando uma praça para integrar mais a casa da cultura.
Vai ter um arquivo eletrônico, com várias formas digitais com todas as informações…
Vocês vão ser chamados logo, logo… A Riviera faz muito parte, e é um orgulho.
Bem, de fato, então vai ter esse material e vai ser implantado, a idéia é iniciar os trabalhos e inaugurar ainda na gestão dele, deve acontecer até dezembro. Aí você se preparem, tá?
Porque o que fica ali, fica! Porque tá gravado!!
Você veja o exemplo de Santos, né? Eles têm essa tradição da cidade e o amor próprio da cidade aumenta, também é o cidadão, vai criando a situação de pertencimento Essa é uma coisa que o Caio sempre se bate também.
Tem outro local que é maravilhoso, que agora voltou a ser aberto a visitação, que é a Vila de Itatinga , que é uma preciosidade. Nós temos uma vila de 1910! Quem mantém ainda é o Porto de Santos (Codesp) que tem um convenio com a prefeitura. O Ney Carlos (Secretário de Turismo) está pilotando com as empresas que fazem o turismo, vc já pode agendar…. Teve uma questão de oportunidade. O atual presidente da Codesp é amigo de escola do Caio, isso ajudou a abrir a Vila, sempre com controle, tem que ter!!!
Eles têm uma Capela mantida assim, linda!
Ah, tem o Cine Itatinga, tem o campo de futebol, com estádio mesmo, com arquibancada, tudo muito bem cuidado. Então isso vai ser explorado.
O que eles estão fazendo , nessa negociação, é passar para a iniciativa privada também fazer a gestão turística, o processo. A usina continua funcionando.
Ela vai ser agora utilizada para geração de hidrogênio líquido, que é a grande vocação do futuro para energia elétrica. Então já estamos transformando. Vamos gerar energia verde através do hidrogênio. Para distribuir para Bertioga e para onde for necessário. Vai ter tanta energia que vai ter um excedente.
Agora isso é um apelo ambiental enorme, não? Porque você impacta muito menos.
E a usina? Os equipamentos a Westing House são de 1910, estão funcionando!
Outra coisa, tivemos um apagão! O Brasil parou! Mas a usina funcionou. A senhora de 1910 continuou jogando luz para o Porto. O Porto. Não é uma coisa linda? Esses valores é que tem que mostrar!
Tem que entregar tudo isso, o conhecimento faz com que as pessoas tenham orgulho e o sentimento de pertencimento. Minha cidade tem isso!, tem aquilo!
E tem os empreendedores que estão vindo aqui, lá na entrada da cidade está tendo uma revolução! Tem a Tenta e o Atacadão Munhós, que é um grupo grande também de São Paulo. Cada um deles está gerando no mínimo 600 empregos diretos e mais tantos indiretos. O que isso significa? A economia que não depende só da sazonalidade do final do ano, quando vai todo mundo pra praia vender peixe ….
Aqui em Bertioga não tem problema de emprego, é uma briga pra conseguir um bom empregado, uma boa mão de obra. O que precisa é qualificar a mão de obra.
E olha: a Rivera absorve muitos dos empregos, inclusive, o mercado imobiliário de construtores é o termômetro. Quantos trabalham na Riviera!!